Para começar esse artigo, quero que você olhe por um tempo a imagem acima. Observe o que há nela e me responda as seguintes perguntas:
Essa imagem foi usada em uma pesquisa feita na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, com dois grupos de pessoas: estudantes americanos, com maioria de contexto judaico, e estudantes indianos. O que você acha que cada grupo respondeu e por que?
Os estudantes americanos de origem judaica falaram que a imagem os fazia se sentir ansiosos, já o grupo de indianos relataram felicidade. Se dermos uma boa olhada na imagem, podemos ver muitas coisas, talvez a maioria de nós vemos várias cruzes na imagem. Mas, se dermos uma boa olhada nas linhas, também veremos várias suásticas! Um fator interessante disso tudo é que os estudantes americanos, em relação a pergunta “O que você vê?”, nenhuma delas descreveu a suástica inicialmente, mas todos relataram sentimentos ansiosos.
Isso se dá por conta de algo que o psicólogo Jaan Valsiner chama de hipergeneralização. Nossa vida é sempre mediada por uma coisa chamada semiótica, que é, de forma muito geral, o processo de significação do mundo. Toda coisa, objeto, outra pessoa, um acontecimento em nossa vida, um conhecimento aprendido na escola, tudo vai ser significado por nós de alguma maneira. Todas essas significações feitas por nós, quando hiper generalizadas, refletem em nós nossa maneira de entender o mundo, se portar, pensar, repensar, agir… de certa maneira, é um modo de ser quem você é.
Já está enraizado que empatia significa “se colocar no lugar do outro”, mas aqui na Moodar sempre questionamos esse conceito. No sentido físico, já aprendemos que “dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo” e, mesmo se tratando de algo muito objetivo, como uma ciência exata, a experiência subjetiva humana segue um pouco do mesmo modelo. Podemos estar inseridos em um mesmo contexto, sofrer influência de uma mesma cultura, ter realidades muito comuns, mas a realidade e interpretação de cada pessoa é única. Isso é o que diferencia, por exemplo, uma emoção de um sentimento: eu e você podemos passar por um término de um relacionamento (evento), ambos ficarmos tristes por passar por essa situação (emoção), mas significamos a tristeza de modos diferentes (sentimento). Enquanto uma pessoa pode reagir querendo se fechar ao mundo entendendo que perdeu a pessoa amada, outra pode achar que essa tristeza não deve ser estimulada e ter um comportamento de fuga em relação a ela.
Voltando aos processos de significação (olha a semiótica mais uma vez), nossa dinâmica interacional com o mundo pode ser dada a partir da Tríade de Pierce, uma relação entre interpretantes (nós) <> objeto (o real) <> signo (nossa interpretação):
Objeto: O objeto é o referente, a coisa ou conceito no mundo real que um signo representa ou se refere. É o que o signo está apontando para, seja algo concreto, como um objeto físico, ou algo abstrato, como um conceito.
Signo: O signo é o meio pelo qual a representação do objeto é transmitida. Ele pode ser uma palavra, imagem, som, gesto, ou qualquer coisa que carregue significado e represente o objeto. O signo atua como uma ponte entre o intérprete e o objeto.
Interpretante: O interpretante é o elemento que conecta o signo ao objeto. Ele é a interpretação ou compreensão que uma pessoa ou mente faz do signo em relação ao objeto. O interpretante não é uma cópia direta do objeto, mas sim a representação mental que o indivíduo cria com base no signo. É importante notar que um interpretante pode levar a interpretações subsequentes, formando assim uma cadeia de interpretações.
O ponto aqui é, se não ocupamos o mesmo espaço e experiência da outra pessoa, se nossa visão de mundo é baseada em como significamos ele e se sempre existe um certo nível de ambiguidade e diferenciação entre cada um de nós, como, então, podemos pensar a empatia?
A empatia, como entendida por nós, não significa saber se colocar no lugar do outro, mas se colocar ao lado do outro. Algo como buscar entender a perspectiva do outro, reconhecer a validez de suas emoções e sentimentos sem uma movimentação de julgamento. Criar essa visão em si e também nos colaboradores que trabalham com você, passa por uma movimentação de entender como cada um chega socialmente, culturalmente e emocionalmente no trabalho e desenvolver um olhar correlacional entre esses fatores e os impactos deles no trabalho.
A empatia, dessa maneira, não deve ser vista como algo única, mas que sim possui algumas naturezas, como por exemplo:
Criar e desenvolver essa habilidade requer de nós também uma outra habilidade, a da escuta ativa. Essa habilidade é o que nos faz, de fato, conseguir fazer a movimentação de se colocar ao lado do outro.
Uma visão como esta nos mostra um cenário bom que podemos ter na nossa empresa, mas os estímulos que precisamos fazer para criar esse senso em nossos colaboradores são diversos. Definição de metas e objetivos compartilhados, jornadas de Treinamento e Desenvolvimento (você pode ter muitas com a Moodar), momentos de acompanhamento e partilha entre a equipe, mas o estímulo que realmente quero focar para desenvolvermos bem a empatia é a construção de vínculos afetivos.
Jean Piaget, um dos maiores nome do mundo da psicologia, um dia escreveu:
“Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação e, consequentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência.”
Muitas vezes tendemos a interpretar o trabalho como uma experiência cartesiana, na qual tudo se resume a processos, uma caixinha de habilidades necessárias, metas e objetivos específicos e um grande planejamento estratégico. Contudo, o trabalho carrega um outro lado da moeda, o lado da experiência social, subjetiva, que atravessa a vida de alguém. É no trabalho onde as pessoas passam a maior parte de suas vidas, criam relações, amizades, conhecem novas pessoas e, caso tudo isso se torne um peso, pode ter certeza que a empresa será mais uma daquelas que não conseguem reter talentos e tem altos índices de turnover. Ou seja, a experiência afetiva - que passa necessariamente pelo processo de significação abordado no início desse texto - é o fator chave que cria colaboradores empáticos, interdependentes e equipes verdadeiras.
Um estudo feito por pesquisadores da Loughborough University mostra muito bem isso o que defendemos aqui na Moodar. Nele, buscou-se avaliar os efeitos do papel da liderança e das relações entre treinador e atleta. A pergunta chave era a seguinte: o que importa mais para a eficiência de um time, as capacidades técnicas de uma liderança ou a relação afetiva entre liderança e liderado?
Quais foram os resultados encontrados? A construção de vínculos afetivos impacta muito mais no resultado de um time do que somente ter uma liderança tecnicamente boa. Ninguém é capaz de desenvolver uma empatia plena se permanece distante, desconectado e sem vínculo com o outro. Criar um senso de empatia significa permitir deixar as pessoas se conhecerem, conectarem-se e estimular ambientes nos quais isso aconteça no trabalho.
Sem escuta ativa, rotinas de 1:1’s, momentos para conhecer o time, suas dores e necessidades, e vulnerabilidade, a empatia nunca será desenvolvida. Para te ajudar em colocar isso em prática no dia a dia, deixamos aqui a baixo algumas dicas para trabalhar a escuta ativa e empatia:
Por fim, queremos lembrar: desenvolver a empatia em nós e nos nossos colaboradores não é uma receita de bolo, mas sim um movimento de entender contextos e saber interpretá-los. Cada escolha de um estímulo no ambiente organizacional será único para uma determinada realidade.