Ikigai: O que é e como funciona no contexto do trabalho?

Escrito por: Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento Moodar

Como esse conceito japonês pode nos ajudar a criar uma experiência de trabalho com mais sentido

Os japoneses são um povo bastante peculiar em relação à sua cultura e filosofias de vida. Eles sempre possuem uma palavra que por si só consegue acolher uma grande ideia ou filosofia, como por exemplo:

  1. Ma: representa o espaço vazio, distância entre duas coisas, pausa, intervalo. O conceito de Ma nos diz sobre a importância do vazio na vida humana.
  2. Yugen: relacionado a um profundo sentimento interno e na tradução significa ao escuro, misterioso, expressão de profundidade, do mistério não-traduzido, do incompreensível.
  3. Kintsugi: É a arte de reparar objetos quebrados com ouro ou prata, destacando as cicatrizes como parte da história do objeto. Simboliza a beleza na imperfeição e na resiliência.
  4. Hanami: Literalmente significa "ver flores" e é associado à tradição de apreciar a beleza das flores, especialmente as cerejeiras em flor. Representa a efemeridade e a beleza transitória da vida.

Enfim, podemos fazer uma lista enorme de palavras que representam práticas, ideias, filosofias, estilos de vida que trazem algum tipo de significado e direção para a experiência humana. Mas a que vamos falar hoje aqui não é nenhuma dessas (você já leu no título), é sobre Ikigai.

De acordo com os japoneses, cada um de nós tem o seu Ikigai que significa algo como nossa razão de viver, razão de ser, aquilo dá significado e propósito à vida ou até mesmo o sentido da vida. Essa ideia de uma razão específica pela qual cada um de nós vive pode até ser criticada, principalmente pelos mais niilistas ou que acreditam mais fortemente no papel do caos na vida humana, contudo, buscar significados para as coisas e experiências termina por ser um comportamento muito natural, tipicamente falando.

De forma geral, estamos sempre buscando sentido para aquilo que fazemos, sentimos, vemos e pensamos. Reflete um pouco comigo: o que, por exemplo, eu preciso pra sentir medo de alguma coisa? Ou saudade? E raiva? A resposta é mais óbvia e simples do que parece ser. Eu nunca vou sentir medo, saudade, raiva ou qualquer outra coisa se eu não significo previamente essa coisa internamente. De alguma maneira, somos o que somos e agimos como agimos porque criamos sentidos para o mundo ao nosso redor. Na crise desse sentido, podemos cair no adoecimento, angústia e sofrimento. Um bom exemplo no qual conseguimos observar todo esse processo é o do personagem Cooper, do filme Interstellar.

O filme se passa em um futuro próximo, onde a Terra está enfrentando uma crise agrícola e uma escassez global de alimentos devido a mudanças climáticas catastróficas. Cooper tinha sido um piloto da Nasa, era apaixonado pelo que fazia e tinha muita razão com o que fazia, mas com a mudança de paradigma da humanidade seu trabalho não possuía mais tanto valor assim. Com o cenário agrícola, trabalhar no campo se tornou mais valoroso do que trabalhar nos ares e Cooper se torna um fazendeiro, mas sempre com a cabeça em outro lugar…

Cenário do filme Interstellar, um homem com capacete de astronauta branco e o outro de casaco  em meio a plantaçãi
Filme Interstellar

Acredito que muitos de nós corremos o risco de nos sentir como Cooper, sempre em busca de fazer algo que faça realmente sentido para nós, é como se realmente precisássemos sentir internamente as coisas, uma demanda quase espiritual para entender o sentido de nossa vida e o que fazemos com ela.

Entendo que ter o nosso Ikigai, nossa razão de viver, se assemelha a algo com isso. Mas como descobri-lo e como aplicar em nosso contexto de trabalho?

Destrinchando o Ikigai

Ikigai, de acordo com o próprio livro que o descreve, é uma espécie de eixo cognitivo e comportamental, em torno do qual vários hábitos de vida e sistemas de valores estão organizados. Como as pessoas no mundo corporativo amam pegar conceitos e criar diagramas e matrizes para criar relações com o mundo do trabalho, uma boa ferramenta que nos ajuda a entender não só o nosso trabalho, mas dentro de uma atuação como pessoas gestoras, profissionais de RH ou responsáveis pela criação de uma nova jornada de experiência e planejamento estratégico de nossas empresas, por exemplo, podemos pensar Ikigai pelo diagrama abaixo:

Imagem azul com um diagrama de círculos brancos

Relacionando ao contexto do trabalho, pode-se entender Ikigai como a união de todos os pontos da imagem acima:

  1. O que você ama: Atividades que você realmente gosta e que o entusiasmam.
  2. O que o mundo precisa: Serviços ou atividades que atendem às necessidades do mundo ou contribuem para algo maior que você.
  3. Pelo que você é pago: Habilidades e atividades pelas quais você pode ser recompensado financeiramente.
  4. O que você é bom: Habilidades e competências que você possui.

A relação de cada um desses campos vai originar espécies de subfatores que existem nesse diagrama: paixão, missão, vocação e profissão.

Lembrando que você pode aplicar isso em diferentes contextos, a exemplo, um exercício de autorreflexão, uma dinâmica em grupo para entender o Ikigai de um time ou até mesmo uma dinâmica com lideranças que estão envolvidas em um rebranding da empresa

Pensando nisso, aqui vão algumas perguntas que podem nos direcionar a entender melhor qual é o nosso Ikigai.

1. O que você ama?

Em um primeiro momento, para explorar a dimensão "O que você ama", podemos fazer perguntas que nos ajudem a refletir sobre nossas paixões, interesses e valores. Podemos nos questionar:

  • Quais são as atividades ou aspectos do trabalho que mais despertam entusiasmo e energia em você?
  • Se o dinheiro não fosse uma preocupação, como você escolheria gastar seu tempo profissional?
  • Quais são os valores fundamentais que orientam suas escolhas e decisões no trabalho?
  • Quais são os momentos em que você se sente mais envolvido e motivado em suas responsabilidades profissionais?
  • Quais são os interesses pessoais que você gostaria de integrar mais ao seu papel profissional?

2. O que o mundo precisa?

Neste tópico é importante focar nas contribuições que se pode oferecer à sociedade. Esse é um ponto mais difícil, aliás não somos super heróis e existe uma certa relatividade nos tempos atuais em relação a essa necessidade. Podemos pensar naquilo que somos capazes, enquanto pessoas ou instituições, de contribuir. Aqui estão algumas perguntas direcionadoras:

  • Como nossos produtos/serviços podem melhorar a vida das pessoas ou resolver problemas específicos?
  • Quais são os desafios e necessidades mais urgentes que a sociedade enfrenta e que posso contribuir?
  • Que impacto positivo podemos ter no meio ambiente e na comunidade em que operamos?
  • Qual é a nossa responsabilidade social como pessoa/empresa e como podemos desempenhar um papel ativo na construção de um mundo melhor?

Planner digital para fazer download capa  com três mulheres sorrindo e folhas de calendário

3. Pelo que você é pago?

Esse é um momento de entender bem - literalmente - qual o nosso valor. Quanto vale meu trabalho, minha força, minha hora, meu “capital humano”? Podemos pensar a partir dos seguintes pontos:

  • Quais são as habilidades ou competências que você possui e que são reconhecidas como valiosas no mercado?
  • Em que áreas você se destaca e recebe feedback positivo em termos de desempenho e contribuição?
  • Quais são as responsabilidades ou tarefas em seu papel atual que você considera mais valiosas para seu trabalho?
  • Como suas responsabilidades atuais estão alinhadas com seus objetivos profissionais e financeiros?
  • Quais são as atividades em seu trabalho que você considera essenciais e que contribuem diretamente para o sucesso do seu trabalho?

4. O que você é bom?

Por fim, vamos focar em nossas habilidades, competências e talentos específicos que possuímos. Como pensar de forma mais objetiva em tudo isso?

  • Quais são as habilidades técnicas ou práticas em que você se destaca?
  • Que competências comportamentais você considera suas maiores forças no ambiente de trabalho?
  • Quais são as áreas em que você sente uma confiança significativa em sua capacidade de desempenhar bem?
  • Que conquistas passadas você considera como evidências de suas habilidades e competências?
  • Quais são as situações em que você se sente mais eficaz e produtivo?

Se a vida possui um sentido fim específico ou se cada um de nós pode encontrar sua razão de viver ou até mesmo se isso não é possível, não sabemos. Mas acredito que todos nós podemos ser e temos um pouco de Cooper de Interstelar dentro de nós. No final podemos terminar como fazendeiros, presos em uma realidade que nos gera uma crise de sentido, ou procurar novos caminhos nos ares fazendo algo que nos gera completude.

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